Caroço de açaí vira energia limpa para abastecer caldeiras

Projeto pioneiro substitui combustível fóssil por caroço de açaí em caldeiras, reaproveitando 10 mil toneladas de resíduos e gerando renda na Amazônia

A Solar Coca-Cola, engarrafadora com unidade em Belém do Pará, implementou um projeto pioneiro que substitui combustíveis fósseis por caroço de açaí na alimentação de suas caldeiras. A iniciativa, que alia inovação tecnológica, eficiência energética e responsabilidade ambiental, também cria novas oportunidades econômicas para comunidades locais, consolidando a fábrica como referência em sustentabilidade no setor.

O projeto teve início em 2019, quando Luene Rossi, coordenadora de Sistema de Gestão Integrada (SGI), identificou a necessidade de substituir a madeira por uma alternativa mais econômica e ambientalmente responsável para aquecer as caldeiras. 

“O projeto nasceu de um desafio de engenharia para substituir o modelo anterior de biomassa. Hoje, conseguimos operar uma planta estável, funcionando 21 horas por dia e consumindo caroço de açaí diariamente”, explicou Rossi. 

O açaí é um alimento de grande relevância econômica e cultural para o Pará e para toda a região Norte do Brasil. Seu consumo intenso gera uma quantidade significativa de resíduo, o caroço, que muitas vezes é descartado de forma inadequada nas cidades. Hoje, esses caroços alimentam as caldeiras usadas no processo de higienização das garrafas retornáveis, que anteriormente dependia de combustíveis fósseis.

Originalmente concebida como uma solução local, a iniciativa evoluiu para operação em larga escala, demonstrando que a biomassa regional pode ser integrada a processos industriais de forma eficiente e sustentável.

Além de reduzir emissões e diminuir a dependência de combustíveis fósseis, a iniciativa aproveita um resíduo abundante na Amazônia, transformando-o em fonte de energia e renda. 

Rossi ressalta o impacto social do projeto: “Esse material, que antes era descartado pela cidade, hoje se tornou fonte de energia e de renda para a população. As pessoas entenderam que o caroço de açaí pode ser coletado e vendido, criando oportunidades.”

O reaproveitamento vai além do fornecimento de energia. As cinzas geradas pela queima do caroço de açaí são utilizadas em segmentos como a construção civil, evitando desperdício e ampliando os benefícios econômicos da cadeia produtiva. “Nada se perde. Já há profissionais utilizando essas cinzas em cimentos e outros ramos produtivos, ampliando o efeito positivo da cadeia”, destacou Rossi.

Escala e inovação

Desde o início da operação, mais de 10 mil toneladas de caroço de açaí foram incorporadas ao processo produtivo da Solar. A expectativa é ampliar ainda mais a parceria com coletores e cooperativas locais, fortalecendo a economia regional e consolidando a biomassa como alternativa viável a combustíveis fósseis em operações industriais.

A Solar é a segunda maior fabricante de produtos Coca-Cola no Brasil, com atuação em 70% do território nacional, abrangendo Norte, Nordeste e partes do Centro-Oeste. A empresa se destaca pela alta capacidade de produção, pelo compromisso com o meio ambiente e pela promoção da diversidade. A fábrica de Belém foi certificada pelo selo iREC (International REC Standard), comprovando que funciona com energia 100% limpa e renovável.

Para Rossi, a experiência com o caroço de açaí, uma biomassa típica da região, se tornou referência no setor. “Compartilhamos essa iniciativa em encontros com outras companhias. É um orgulho mostrar que um resíduo urbano tão característico da nossa região pode se transformar em energia limpa e gerar impacto positivo de ponta a ponta da cadeia”, concluiu.

Fonte: Correio Braziliense

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