Entrou em vigor nesta quarta-feira, 06, a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. A medida, oficializada em 30 de julho por ordem executiva assinada pelo presidente Donald Trump, eleva em 40 pontos percentuais a alíquota anterior de 10%.
Apesar de algumas exceções, a mudança tende a impactar diretamente setores estratégicos da economia nacional. Os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações brasileiras, atrás da China, com destaque para petróleo, carne e café — os principais geradores de receita.
Estimativas da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços indicam que 35,9% dos produtos embarcados aos EUA sofrerão impacto (veja abaixo).
A norma estabelece incidência da nova tarifa sobre todas as mercadorias brasileiras importadas pelos EUA, salvo em casos específicos.
O efeito imediato é o encarecimento considerável desses produtos no mercado norte-americano.
Produtos atingidos pela nova tarifa
🔸 Café
Maior exportador global, o Brasil tem nos EUA um de seus principais compradores. Em 2024, os embarques de café somaram quase US$ 2 bilhões, representando 16,7% do total exportado.
🔸 Carne bovina
De acordo com a Abrafrigo, o mercado norte-americano absorveu 16,7% das exportações brasileiras do produto em 2024 — o equivalente a 532 mil toneladas e US$ 1,6 bilhão em receitas. A Minerva projeta queda de até 5% na receita líquida.
🔸 Frutas
O setor frutícola também será afetado. No ano passado, mais de 1 milhão de toneladas foram exportadas.
🔸 Máquinas agrícolas e industriais
O decreto prevê isenções específicas, como peças destinadas à indústria de papel e celulose, além de itens voltados à aviação civil. Máquinas e componentes fora desses segmentos serão taxados integralmente.
🔸 Móveis
Alguns modelos escaparam da taxação, entre eles assentos e estruturas metálicas ou plásticas utilizadas em aeronaves. O restante do setor será atingido pela nova alíquota.
🔸 Têxteis
Não houve uma isenção abrangente. Itens muito específicos, como fio de sisal para enfardamento e materiais aeronáuticos, compõem o grupo excluído.
🔸 Calçados
Todos os calçados brasileiros passaram a estar sujeitos à tarifa de 50%, cenário que tende a agravar a situação de um setor já pressionado pela concorrência global.
Justificativas da Casa Branca e impacto
A decisão foi anunciada por Donald Trump, por meio de uma ordem executiva acompanhada da declaração de nova emergência nacional.
Segundo autoridades americanas, recentes atitudes adotadas pelo Brasil colocariam em risco a segurança dos EUA, sua política externa e a estabilidade econômica.
O documento também traz duras críticas ao governo brasileiro, com alegações de perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro, violações de direitos humanos e fragilização democrática.
Dados oficiais apontam que os produtos afetados pelas novas tarifas geraram US$ 14,5 bilhões em exportações para os EUA no primeiro semestre de 2024.
A projeção considerou tanto os aumentos quanto as exceções previstas. As novas taxas atingem segmentos fundamentais da produção brasileira, como carne e café. Em contrapartida, cerca de 700 produtos não sofrerão alterações tarifárias.
Segundo levantamento da Secretaria de Comércio Exterior, 45% das vendas para os EUA permanecem isentas. O valor correspondente a essas mercadorias somou US$ 18 bilhões em 2024.
Em outra frente, o ministério destaca que 19,5% das exportações continuam submetidas a alíquotas específicas, com base em acordos internacionais. Esses itens movimentaram US$ 7,9 bilhões no mesmo período.
“Essas tarifas decorrem da Seção 232, que trata de segurança nacional. Itens enquadrados nesse dispositivo seguem sujeitos a regras anteriores. No caso das autopeças, por exemplo, a alíquota segue fixada em 25%, válida para todas as origens”, informou o ministério, em nota.
Diplomacia busca amenizar tarifaço
Apesar do contexto desafiador, o cientista político André César, sócio da Hold Assessoria Legislativa, acredita que ainda há espaço para reverter — ou ao menos reduzir — os impactos da medida por meio de negociações diplomáticas.
Segundo ele, a atuação do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, tem sido decisiva nesse processo.
“A diplomacia é, por natureza, um ambiente de construção de consenso. O chanceler Mauro Vieira tem demonstrado habilidade em conduzir esse diálogo. Em visitas recentes aos Estados Unidos, participou de reuniões relevantes, como com o senador Marco Rubio, figura próxima ao ex-presidente Trump. Isso indica disposição para o entendimento”, avalia César.
Fonte: noticias.r7